Presidenciais - Janeiro de 2021

Presidenciais - Janeiro de 2021 


Hoje de manhã fui à rua passear com o cão e deparei-me com um cenário inóspito. 

Sem condições de segurança para os cidadãos-eleitores, em plena crise pandémica, vi filas e filas de pessoas a menos de 2 metros entre si, dentro do perímetro de uma escola secundária para começar a votar nas presidenciais de 2021. 

Depois percebi pela imprensa que hoje já eram esperadas que cerca de 250.000 pessoas exercessem o seu direito em regime de voto antecipado em mobilidade. 

Continuei o passeio da manhã com o cão e cogitava numa boa maneira de perceber o que tinha acabado de testemunhar. 

Ainda há bem pouco tempo o governo se queixava que a pandemia havia disparado em número de infectados por causa da celebração do Natal. O aumento exponencial de mortos e infectados havia sido atirado à cara dos portugueses. Estavam a pagar o preço do alívio no confinamento durante o período natalício, que havia acontecido há 23 dias atrás. 

Por outro lado, neste momento, o sistema dos cuidados intensivos e o número de camas disponíveis já está próximo dos limites de utilização. Os hospitais estão à beira da ruptura com o aumento de casos de covid-19 e o sistema nacional de saúde está próximo do colapso. 

Se existiu laxismo durante o período de Natal, o que dizer deste período eleitoral? 

Será que o Sr. Presidente da República ao marcar o dia das eleições, tinha presente que os hospitais estão a abarrotar, as cremações estão com lista de espera e as morgues hospitalares estão cheias? Que o avanço da pandemia poderá levar uma necessidade de 700 camas de cuidados intensivos? 

Sr. Presidente da República, muito desejo que estas eleições não façam escalar ainda mais esta maldita pandemia. Peço que a comunicação social tenha tento na pena, mas diga toda a verdade.

De facto, durante o passeio da manhã com o cão, também me recordo de ter visto em funções a casa mortuária da paróquia. 

Mesmo sem eleições presidenciais, os meses de Janeiro e Fevereiro já seriam os meses de grande trabalho nos cuidados intensivos hospitalares. Os recursos não se multiplicam apenas porque há um processo eleitoral em curso. 

Agora que já surgiram, à vista de todos, as primeiras as primeiras filas para as presidenciais, mais de 248.000 eleitores começaram a votar hoje. 

Será que o vírus desta pandemia também vai votar ou também é candidato? 

Será que os eleitores votantes estão isentos do risco de contágio durante o período eleitoral, como se tivesse sido atribuído uma espécie de indulto presidencial a esta condenação pandémica?

Portugal é o segundo país do mundo com maior número de novos casos de infectados por cada milhão de habitantes e ocupa o primeiro lugar dentro da união europeia. Não haveria melhor data para marcar as eleições presidenciais? 

Apesar do crescimento descontrolado da pandemia, a campanha eleitoral segue em frente e continua incólume. Prosseguem também os cumprimentos com um chocar de punhos, ou como se diz em português do Brasil, batendo punhos, como se não existisse perigo de contágio.  

Que democracia é esta quando cerca de 300.000 pessoas poderão ficar impedidas de votar? Quando milhares de alunos já se encontraram em modo de pausa escolar? Quando a restauração está a definhar?  

Já para o final do dia se percebeu que muita gente desistiu de votar antecipadamente por causa da fila e agora terá que se submeter a uma segunda eventual exposição ao vírus que anda por aí em campanha presidencial até ao próximo dia 24, dia das eleições.   

Sei que não coloco a democracia em causa, mas também não irei colocar a minha saúde em risco.   

Poderei vir a ser o próximo infectado mas não serei eu a desafiar a sorte. 

Boa sorte aos candidatos.  

17 de Janeiro de 2021 

João  Pires 

#pandemia #COVID19 #presidenciais2021 


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