A pandemia que veio quebrar com tradições e anular sondagens

O regime semáforo

A pandemia que veio quebrar com tradições e anular sondagens


Tradições como o Natal ou o Carnaval foram reconfiguradas ou anuladas devido a uma pandemia.

As eleições presidenciais não ficaram imunes ao vírus. A alta percentagem de abstenção prevista aponta que para nada fique decidido à primeira volta. Mais de 65% dos eleitores não irão às urnas para escolher o presidente. Já não será uma vitória tão limpinha como o presidente Marcelo havia previsto. A vida também não é certa e em tempos de pandemia nem se fala. Tudo indica para um sentido claro de não voto, fico em casa. #fiqueemcasa foi uma das hashtag mais utilizadas em Portugal, destinada a incentivar o isolamento social durante a pandemia. As mensagens de esperança com arco-íris na janela já desapareceram. Desapareceu a esperança?

Estamos a viver os resultados das medidas políticas que têm vindo a ser tomadas muitas vezes de maneira titubeante e quase sempre errática.

Se o efeito da pandemia na participação eleitoral ainda não é garantido, embora se perceba para onde caminha, já o efeito Vitória de Marcelo poderá deixar muitos eleitores em casa dando a vitória dada como certa.

As trapalhadas sucedem-se. Quando não se conseguem resolver os problemas, extinguem-se as provas. Talvez por isso é que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), alvo de notícias recentes pelas piores razões, com a morte do cidadão ucraniano às suas mãos, esteja a ser desmantelado, esquartejado até à sua extinção.

Esta será a excepção a tudo aquilo que possa prejudicar o bom andamento das eleições será adiado para o dia seguinte. Bom andamento é forma de dizer que eleições em tempo de pandemia significa votar em condições de segurança ou cumprir a palavra de ordem #fiqueemcasa.

A taxa de mortalidade duplicou em duas semanas e acima dos 80 anos é superior a 34%. Morreram 9 pessoas por hora desde segunda-feira. Aguardemos pelo quinto dia após as eleições para saber como estão a sua tosse e a sua febre.

As projecções apontam para 10.000 mortes até meados de Março, o que equivale ao total de mortes que ocorreram até agora. A pandemia já atingiu a dimensão da guerra no ultramar. Esta é uma nova guerra nunca imaginada. Quem diria que os portugueses voltariam à guerra alinhados com o resto do mundo.

O Governo está a esticar a corda até à data das eleições. Certamente que após essa data tudo será diferente para pior. Seremos obrigados ao confinamento ainda mais rigoroso até aonde a imaginação o permitir.

Até agora o confinamento tem sido a brincar ou se formos mais positivos, uma espécie de preparação para um cenário mais rigoroso que se aproxima.

Com venda ao postigo ou à janela fechada, as medidas tomadas pelo Governo têm sido pouco eficazes. As hesitações quanto ao encerramento das escolas, com a suspensão das actividades lectivas durante 15 dias, só mostram que o Governo gostaria de esticar as aulas até à data das eleições, mas o vírus assim não quis, pelo que teve que antecipar a penosa medida.

É pena não termos seguido mais cedo o exemplo com as medidas tomadas por Inglaterra e pela Alemanha quanto ao encerramento das escolas.

Tudo terá que ser encerrado e confinado à excepção da subida da abstenção eleitoral. Se até agora a abstenção eleitoral significava um acto de falta de cidadania, passou a significar uma atitude de prudência face à propagação do vírus. 

Está tudo em aberto e poderá ter que haver segunda volta o que significa uma segunda oportunidade para o vírus voltar a atacar.  

Os hospitais estão a rebentar pelas costuras. São vários os relatos de médicos que estão próximos de atingir o limite e contam que estão a funcionar em cenário de guerra. É a própria Ministra da Saúde que o admite e prevê que a situação se irá agravar nos próximos dias. Os profissionais de saúde estão a dar as últimas. Que ninguém me lembre de partir um braço ou de ter uma dor de cabeça para em seguida se dirigir a um hospital. Talvez os rumores iniciais que circularam nas redes comecem a fazer sentido. A requisição civil por si só não será suficiente para resolver o problema.

O Governo já percebeu que o vírus não faz pausas para o almoço nem fez para o Natal nem ataca a determinadas horas do dia bem. Na verdade poderá propagar-se a uma velocidade superior em zonas e horas específicas, mas isso não significa viver em regime de semáforo.

21-01-2021

João Pires

João Pires



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