As tecnologias irão tão longe quanto a sustentabilidade do planeta o permitir

Até há bem pouco tempo o presidente de um país democrático foi governando através Twitter, dado tratar-se de um meio chave para o debate político, embora no final tenha sido definitivamente expulso da plataforma por não cumprir as regras, designadamente por publicar declarações que incitavam à violência, ao ódio e ataques sucessivos às minorias. 

Mas que tal tipo de governação possa acontecer é imprescindível que todos os cidadãos estejam ligados em rede, pois só é possível dirigir um país depois garantir meios para que os cidadãos recebam toda a informação. 
 
Desde há muito tempo atrás que as notícias correm através da rádio e mais tarde através da televisão. Mas também circulam desde sempre através da imprensa, meio de comunicação secular. Todos estes meios de comunicação em massa têm uma característica em comum, tem apenas um emissor que transmite para muitos receptores, sem a possibilidade de retorno, ou pelo menos retorno restrito, o que dificulta o diálogo. Outras formas de comunicação sempre permitiram o diálogo, preferencialmente com dois intervenientes, como no caso do telegrafo, do telefona e da carta. 
 
Com o surgimento da internet, nasceram novas possibilidades de comunicação, mais completas e rápidas. Passou a ser possível partilhar conteúdos, como imagem, áudio e vídeo. Aqui passou a ser possível dialogar em larga escala. 
 
As novas tecnologias estão em crescimento e irão liderar o mundo para ditar as suas regras através dos novos meios de comunicação, tendo como moeda de troca a obtenção de informação de cada utilizador, passando a ser possível conhecer cada cidadão com detalhe nunca imaginado. 
 
As redes sociais conseguem adivinhar aquilo que cada utilizador pensa em cada momento. Quando uma empresa oferece uma conta de correio electrónico, oferece uma aplicação app, oferece qualquer outro produto ou serviço digital, pede apenas em troca os dados pessoais do utilizador, o acesso aos contactos e fotos pessoais, bem como ao acesso de outros registos informáticos aparentemente menos importantes. O que o utilizador não imagina é que está a vender a sua alma, ou pelo menos um pedaço da sua própria vida pessoal ao progresso. 
 
Apesar da aplicação (app) StayAway Covid pretender identificar potenciais exposições a pessoas infectadas com Covid-19 levantou várias questões éticas. Claro que a utilização da app é voluntária, gratuita e anónima, com a justificação de ferramenta complementar para conter a expansão da pandemia de Covid-19. 1,8 milhões de utilizadores desistiram e já desinstalaram a app porque não é fiável. Tal atitude mostra que os utilizadores não ficam dependentes das app quando estas deixam apresentam falhas, mesmo que fossem uma promessa para defender da Covid. Na verdade, tudo isto não de passou de mais uma moda. As tecnologias irão tão longe quanto a sustentabilidade do planeta o permitir.


No outro dia o meu telemóvel caiu à água, mas não fiquei impaciente nem desesperei. Simplesmente retirei o cartão SIM do operador telefónico, retirei o cartão de memória, desliguei o telemóvel e coloquei dentro de um saco com arroz. Sim o arroz tem essa capacidade fantástica de absorver pelo menos uma parte da humidade que fica retida dentro do telemóvel. Depois basta esperar que regresse à vida. Impossível retirar a água com o secador de cabelo ou qualquer outro meio invasivo. Dessa forma só danifica ainda mais o ecrã e a placa, pois vai pulverizar a humidade por todo o aparelho. 
 
Depois inseri o cartão SIM num telefone com teclas. Claro que não fiquei isolado do mundo virtual, pois isso hoje em dia é quase impossível. Ligado ao mundo através do computador e do tablet é suficiente, dado que em período de confinamento, a maior parte do tempo é passada em casa. 
 
Escrevo este texto que já vai longo e arrisco-me que seja lido até à terceira linha, pois as redes sociais não são amigas de textos tão completos. Este texto será publicado nos outros suportes para que possa sobreviver. No fundo, é o gosto pela escrita que comanda e que dá vida a estas palavras. 
 
As redes sociais foram criadas para proporcionar entretenimento. Ao utilizador cabe desfrutar desse novo mundo, sem despertar o verdadeiro sentido crítico, apenas pequenos ódios ou ondas de solidariedade que parecem atravessar o planeta. 
 
Estas plataformas de muito entretenimento e pouca comunicação foram evoluindo no sentido de fazer deslizar o ecrã táctil cada vez mais depressa, com a ajuda do dedo indicador – futuramente será deslizado com o simples olhar - sem que haja tempo para reflectir sobre aquilo que estamos a ver e menos tempo ainda para ler linhas como estas. Já dá muito trabalho fazer um GOSTO ou deixar um emoji. 
 
No início das redes sociais o objectivo era claro: partilha de conteúdos como imagens, pequenos textos e vídeos. 
 
Com o crescimento das redes sociais veio a publicidade. Enquanto está a ler este artigo é provável que tenha visto algum anúncio ou publicação patrocinada. O autor destas humildes linhas acredita que este texto terá a relevância que os leitores quiserem dar. 
 
A probabilidade de este humilde texto ser partilhado pelo caro leitor é diminuta. 
 
Os dispositivos móveis como os tablets e os telemóveis, os computadores de secretária, os computadores portáteis, os automóveis e outros tantos equipamentos de grande utilidade para a raça humana dependem da energia externa, de combustíveis fósseis ou energias renováveis. Mas sempre energia externa a si mesmos. 
 
Os equipamentos electrónicos portáteis utilizam baterias recarregáveis de lítio, que por sua vez dependem da extracção desse metal não renovável. Assim todo este progresso está assente em tecnologias dependem de recursos não renováveis. A procura incessante de poupança de energia mostra essa preocupação com equipamentos mais eficientes, com ecrãs de fundo negro (voltamos ao início) e outras medidas. 

 
Ninguém previa uma pandemia desta magnitude. Apesar de sabermos que estas crises são cíclicas ninguém saberá até onde ir. As redes sociais e os outros meios de comunicação online vieram ajudar a quebrar o isolamento em tempos de confinamento. Mas o negócio online também cresceu pelo facto de os confinados passaram mais horas frente aos ecrãs 

Imagine-se viver esta pandemia sem internet nem redes sociais.   

Este pensamento nunca teria saído da gaveta nem chegaria a lado algum, mas estas tecnologias irão tão longe quanto a sustentabilidade do planeta o permitir. 

 

16 janeiro 2021 


João Pires






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