Os hábitos também mudam com o tempo

O ser humano erra, aprende e evolui


O ano que termina hoje vem fechar um ciclo plurianual de restrições, confinamentos e eleições em condições diferentes das habituais. Também veio iniciar uma nova forma de trabalho e a escola à distância. As tecnologias aceleraram os processos de comunicação à distância. Os comportamentos em sociedade transformaram-se e as comunidades tornaram-se mais importantes na vida dos cidadãos. O comércio online veio competir com as grandes lojas e em menor escala com o comércio local devido aos produtos oferecidos. 

Com o crescimento da comunicação pelas redes sociais e imprensa online, paradoxalmente a ideia de uma imprensa livre, democrática e plural está cada vez mais distante. Aumentou o número de jornalistas presos no mundo, ficando assim vedado parcialmente o acesso à informação. Fica assim provada que nada está garantido em alguma parte do mundo, ficando condicionado o acesso às notícias.


Numa democracia enfraquecida, geralmente as atenções são desviadas dos temas fulcrais  e que deveriam preocupar uma nação, para questões de lana-caprina. Importam temas como a pandemia, a recessão económica, a dívida elevada do país e a subida inevitável das taxas de juro que deveria concentrar as atenções lusas. Na falta de capacidade ou por ser mais expedito dirigem-se os discursos e as câmaras da TV para outros assuntos.


Há um ano atrás e depois do pico das festas de Natal e Ano Novo, era esperado que a pandemia se esfumasse após a implementação do plano de vacinação. Desta vez e apesar do cansaço da população, aumentaram os cuidados nas atitudes sociais. Neste Dezembro há mais pessoas a circular na rua com a máscara, sendo esperado que assim continue pelo menos até ao final da primeira quinzena de Janeiro de 2022. Contraditória é a ideia que mais tarde ou cedo iremos ficar todos infectados e em conjunto com o plano de vacinação atingir a imunidade natural. Esta ideia vem do ano anterior, mas ficou desactualizada pelo surgimento de novas variantes do vírus, que vieram alterar os planos. É aconselhado fazer a vida normal, mas com reforço de cuidados. Trata-se de uma ideia algo discordante entre si, mas à falta de melhor, é o que pode ser pedido à população.


A leitura e a escrita são processos que vieram dar uma ajuda para atravessar esta pandemia. A leitura porque transporta qualquer leitor para os limites da sua imaginação, apesar de passar ali mesmo ao lado da pandemia. Ler é seguro e antiviral. Esta é uma forma de desviar a atenção das preocupações fundamentais atrás citadas, de forma voluntária e consciente. Permite regressar à realidade sempre que o leitor quiser e possibilita dirigir a sua atenção para os assuntos verdadeiramente importantes, assim o queira. Claro que as redes sociais, a TV e outros focos de interesse competem com a leitura. Trata-se apenas de uma questão de vontade, de ter a consciência que há momentos para estar a sós, consigo mesmo.


Depois da leitura surgiu a necessidade da escrita. Desenvolver raciocínio à medida que as palavras vão passando para o papel. Uma espécie de diálogo com os próprios botões. Quem melhor que o próprio autor para para se conhecer? Serve até de terapia para encontrar soluções para problemas que se vão arrastando no dia-a-dia. 


Não é habitual fazer o balanço do ano 2021 que agora terminou nem tomar resoluções para o ano novo. Em primeiro lugar porque aquela promessa mais ou menos popular de começar o ano a fazer exercício físico, já vinha acontecendo. Entre caminhadas e corridas já terá percorrido cerca de 700 quilómetros, no espaço de um ano, sem grande esforço nem tomada de consciência. 

Mas as mudanças foram muitas nos últimos dois anos, ocupados pela pandemia, que ditou novas regras de funcionamento do mundo. Pessoas que partiram precocemente por culpa da pandemia, o que colocou o mundo às avessas e as atenções viradas para um vírus ainda pouco conhecido. As constantes mutações do vírus fazem com que seja mais difícil encontrar uma solução estável e definitiva para a erradicação do problema. Todos os esforços estão concentrados em encontrar uma vacina eficaz e definitiva, deixando de lado outras preocupações relacionadas com tantas maleitas. Passou-se a dar atenção à luta contra o coronavírus, quase esquecendo a razão principal desta saga, o próprio ser humano.   

As vacinas estão a ser desenvolvidas para prevenir a doença e proteger a comunidade como um todo, desiluda-se quem pensar que a vacina poderá proteger o indivíduo de forma egoísta. Não é um tratamento individual em que separa os indivíduos seguros porque estão vacinados dos restantes.


Vale a pena acreditar no amor e que 2022 será um ano de mudança, onde o vírus venha a perder a sua força, até desaparecer ou pelo menos se remeter para padrões idênticos a outros vírus, no que respeita ao ritmo das mutações. 

Será também um ano de novos desafios nas relações laborais, com o crescimento do teletrabalho, mas das novas ofertas de trabalho. Os ciclos temporários de alívio da austeridade induzem algum conforto, mas depois vem um período onde tudo se perde o que havia sido ganho anteriormente. As cadeias globais de abastecimento apresentam quebras de fornecimento de matérias-primas e de produtos acabados. O aumento dos preços e a perda de compra dos portugueses registada em 2021, os despedimentos colectivos prometem novos desafios para 2022.



João Pires autor


1 de Janeiro de 2022


João Pires autor

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