Situação financeira portuguesa no Séc XIX
O que entre nós é mais desorganizado, incompreensível e anómalo é o sistema das finanças públicas. Não há ali ordem, nem método, nem regularidade fiscal, nem pensamento administrativo ou económico.
Tudo se tem criado e sobreposto ao acaso das flutuações políticas sem conexão nem uniformidade, sem estudo nem organização.
Cada ministério tem lembrado o seu expediente e acrescentado a anarquia caótica dos orçamentos com novos e sucessivos paliativos e até absurdos, onde umas vezes avulta a inepeia e a insensatez e outras vislumbra a má fé e a desonestidade.
Tome-se nas mãos um orçamento, folheiem-se algumas páginas, leiam-se os primeiros capítulos e digam depois, com a mão na consciência se aquelas colunas de algarismos são acessíveis a todas as inteligências e se a razão mais imparcial e mais perspicaz, pode, sem esforço, arrancar o fio e a luz da verdade àquele enredado labirinto, onde a ciência cautelosa dos nossos financeiros professos escondeu o segredo das receita e despesa públicas.
O Jornal do Porto
numero 82
terça-feira 14 de junho de 1859
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