Situação financeira do país 1859
Custa a perceber a razão d'esta obscuridade nebuloza, a que se abriga e apega a sciencia dos nossos financeiros e estadistas. Para que isto é, não se sabe ao certo. Toda a gente faz as suas contas com lucidez, simplicidade e clareza.
Ha mesmo tratados de escripturação mercantil, que ensinão o modo facil e compreensivel de arrumar os livros do negocio, coordenar as verbas da receita e os capitulos da despeza, de pôr em dia as contas mais escuras e difficeis.
Todos tem os seus livros de receita e despeza, todos sabem tomar nota do que devem, e do que hão-de haver, e só para as nossas finanças (Portugal) não ha-de haver um livro claro e facil, que explique os segredos da sua escripturação, nem uma sciencia accessível e desartificioza, que todos possão aprender e conhecer, e que explique e declare ao paiz em linguagem singela e franca a sua verdadeira e exacta situação financeira.
E é d'isto que antes de tudo nós carecemos hoje. Não conhecemos todos os encargos do estado, nem podemos avaliar o alcance e elasterio das receitas publicas. Ao orçamento não se pode perguntar nada. Alli tudo são mysterios, e tenebrozidades. As cifras não deixam vêr o mais tenue rayo de luz. A verdade está escurecida e toldada.
fonte:
O Jornal do Porto, 1859
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