A vida mudou, nós também

Hábitos tão básicos e automáticos como lavar as mãos antes da refeição, passaram a ser empreendidos de forma consciente e repetida em várias tarefas diárias. Mas também a criação de uma zona restrita para deixar o calçado usado na rua ou para deixar a roupa do dia de trabalho, passou a ser uma preocupação. Deixar a roupa à entrada de casa, deixar os objectos que vieram da rua à entrada de casa, parece ser uma atitude prudente, neste período mais crítico da pandemia, mas também para o futuro. Se é sabido que o telemóvel pode transportar fungos e bactérias, talvez não seja boa ideia transportar o aparelho pela casa, em particular para a zona onde se preparam os alimentos, onde se tomam as refeições ou na zona onde se descansa. Na entrada de casa deverão estar os chinelos para uso no resto da casa.

Estas são medidas simples que deverão estar em sintonia com o rigor pretendido nos locais de trabalho, onde se pugna diariamente por exigir todas as condições de saúde e segurança.

A própria saúde e segurança no trabalho, deverá ser revista para a promoção e prevenção de novas regras, a fim de responder a esta pandemia e ao futuro, em articulação com o controlo da gestão, a contratação e horários de trabalho.
Quanto ao cumprimento do horário de trabalho, o regime de trabalho à distância, implica a coordenação de várias tarefas, até aqui inexistentes para todos os trabalhadores que de um momento para o outro, se viram confrontados com a nova realidade. Foi necessário implementar uma nova coreografia de trabalho, a fim de assegurar a continuidade do negócio, onde também entram as tarefas domésticas e o apoio à família.
Este período de transição do modelo de negócio, requer adaptação e não pode deixar de assegurar a sua continuidade, mas também não pode servir de motivo para aumentar a pressão sobre os trabalhadores. A fim de permitir a sanidade mental de quem está no teletrabalho, é imprescindível que se cumpra rigorosamente o horário de trabalho e que se aplique o direito a desligar. A desligar o telemóvel fora do horário de trabalho, a desligar o computador de trabalho. Várias famílias aperceberam-se que os filhos passam muitas horas em frente ao ecrã após os primeiros dias em teletrabalho.
Uma das medidas adoptadas é que o direito a desligar deverá ser imperativo para toda a família, incluindo os filhos. Fora do horário de trabalho. Essas famílias que passaram a conviver mais horas com os filhos, decidiram desconectar todos os ecrãs, telemóvel, tablet, computador, consolas de jogos e televisão.

Para quem está na linha da frente no atendimento aos clientes, em sectores definidos como estratégicos, os meios de resguardo, como as divisórias em acrílico, deverão estar aplicadas até ao final do dia de hoje.
Seria muito desejável que houvesse o pagamento de subsídio de risco, na ausência da cobertura pelo seguro de acidentes de trabalho, classificando estas profissões de risco.

A partir do momento que os sectores estratégicos foram chamados a dar continuidade ao fornecimento dos seus serviços, na sequên
cia da declaração do estado de emergência, para manter a economia em funcionamento, no apoio às famílias e empresas, deverá ser dada atenção especial a esses trabalhadores que não podem ficar em casa nem podem parar de trabalhar, a fim de dar continuidade ao negócio.
Com a chegada das férias da Páscoa, é importante que não seja interrompido o apoio às famílias e seja assegurado o pagamento do rendimento mensal aos trabalhadores. Não faz qualquer sentido o uso de férias para colmatar esta lacuna. É crucial que seja definido um programa pelo governo para prolongar o apoio através de subsídios, neste tempo de pandemia e de estado de emergência declarado.

É tempo de auto quarentena. Tempo de ficar por casa. Muitos fugiram da pandemia para a sua aldeia, onde vivem maioritariamente idosos. Várias aldeias estão a sofrer os resultados do êxodo citadino. As mudanças da vida são imprevistas. Há bem pouco tempo falávamos de êxodo rural.

É tempo de auto quarentena, evitando os ajuntamentos de pessoas, para passear à beira-mar num dia de sol ou numa ida à praia. Essas pessoas foram apelidadas de egoístas, estúpidas e perigosas. Não sabemos o que vai na cabeça dessas pessoas quando tomam uma decisão de sair à rua em grupo, contrariando as orientações dos organismos de saúde. Também não se entende porque é que depois de utilizar a caixa multibanco se deixem luvas usadas na via pública. Talvez seja uma reacção irracional ao medo. Assim como uma pessoa infectada pode contagiar duas ou três pessoas, também estes comportamentos podem afectar de maneira negativa como já descrito ou podem influenciar positivamente se se mantiver em auto quarentena.
Se a região norte é aquela que conta com mais casos de infecção, importa perceber que este é um problema global. Ninguém está livre de mais tarde ou mais cedo vir a ser contaminado. Por isso é que as medidas de higiene pessoal são mais importantes para a defesa pessoal e para a saúde pública.

Ainda há bem pouco tempo a globalização, com a livre circulação de pessoas e bens por todo o mundo parecia ter só vantagens.

Que as mudanças se operem por causa de um vírus
Mas sobretudo que as mudanças aconteçam em nós
É tempo de reflectir sobre o sentido da vida, considerando que esta nunca está garantida.

João Pires

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